Fabio Cunha cede entrevista ao jornalista Luiz Carlos de Almeida

07/01/2012

Graduado em Esporte, o professor Fabio Cunha é também Mestre em Ciências do Movimento, pós-graduado em treinamento no futebol, conferencista, escritor, preparador físico e treinador de futebol, está lançado seu segundo livro “Técnico de futebol – A arte de comandar”.

Antes, Fabio escreveu “Torcidas no Futebol: Espetáculo ou Vandalismo?”.

Ele nos concedeu uma entrevista via e-mail, que merece ser lida, afinal, ele fala um pouco sobre o universo do técnico do futebol, dentre outras coisas.

Luiz Carlos de Almeida.

1- Prof Fabio Cunha, o senhor está lançando um livro que aborda a profissão de técnico de futebol. Nos fale sobre esta obra, e qualquer indivíduo está apto a ler e entender este livro, ou é um livro só para os profissionais da área?

Esse é um livro dedicado a explicar e comentar a profissão de técnico de futebol.

Os objetivos do livro são: Demonstrar as características e o perfil dos técnicos; Mostrar as dificuldades para começar na carreira; Relacionar as habilidades e conteúdos que uma pessoa deve adquirir para ingressar na profissão; Falar sobre liderança e motivação; Mostrar exemplos de técnicos de sucesso no Brasil.

É um livro destinado a todas as pessoas interessadas em aprender ou conhecer um pouco mais sobre a profissão.

2- Eu já repórter esportivo no dia a dia de clubes sempre notava que tem jogadores que conseguem entender perfeitamente o que o treinador pede, e outros tem mais dificuldade. Como o treinador pode fazer para que este jogador passe a ter uma melhor assimilação do que foi pedido a ele?

Primeiro devemos melhorar a educação geral dos jogadores. Quanto mais os jogadores frequentarem a escola, melhor será para o futuro tanto como atleta como cidadão. Até porque, muitos não se tornarão atletas profissionais, por isso é importante estudar e ter alternativas.

Com relação aos treinamentos e jogos, os técnicos devem ser objetivos e claros. Muitos técnicos gostam de inventar estratégias mirabolantes e acabam confundindo os atletas.

Os técnicos devem ser claros, criar sistemas e táticas de acordo com o nível de assimilação dos jogadores e utilizar diferentes métodos de explicação, seja com lousa, vídeo, desenho etc.

3- Treinador de futebol sempre está de olho num todo, ou seja, ele não fica com os olhos presos á bola. Precisa decifrar a tática do adversário, e tentar neutraliza-la. Ter visto vídeos de jogos anteriores de adversários ajuda o treinador na hora do jogo, poder ter uma visão do jogo, mas “na bola”, ou não, cada jogo é um jogo.

Quanto mais informações o técnico tiver de adversários melhor será para montar estratégias para vencer uma partida.

No mundo globalizado de hoje, não é aceitável técnicos de equipes profissionais não terem informações dos adversários, seja por vídeos, conversas com outros profissionais ou observação de jogos.

É fundamental reunir o máximo possível de informações para não ser surpreendido na hora da partida.

4- No Brasil existe uma meia verdade sobre livros de futebol, dizem que se publica pouco. Mas se publica pouco sobre tudo, esta é a verdade. Nos diga quais os livros que o Sr leu e que tem como referência maior dentro da nossa bibliografia futebolística?

Realmente o brasileiro lê muito pouco de um modo geral. Existem muitos livros de futebol, mas livros gerais, biografias, de história, poucos livros técnicos com conteúdo relevante.

Muitos livros são apenas superficiais e pouco se aprofundam em questões técnicas, táticas, físicas e psicológicas. Poucos também são os técnicos de renome que escrevem livros ou artigos sobre treinamento.

Li muitos livros sobre futebol e esporte, acredito que o aprendizado deve ocorrer pela vida toda, nunca podemos parar de aprender. Quanto mais se estuda sobre um assunto, mais vemos o quanto temos que continuar estudando.

Citando alguns livros interessantes sobre futebol, alguns sobre treinamento e outros gerais:

– BARROS NETO, Turíbio Leite; GUERRA, I., org. Ciência do Futebol. Barueri: Manole, 2004.

– BRUNORO, J. C.; AFIF, A. Futebol 100% Profissional. Editora Gente.

– BERNARDINHO. Transformando suor em ouro. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.

– GOMES, Antonio Carlos; SOUZA, Juvenilson. Futebol: Treinamento desportivo de alto rendimento. Porto Alegre: Artmed, 2008.

– HARRIS, Harry. José Mourinho como venceu: nos bastidores do melhor ano do Chelsea. Tradução Maria de Fátima Silva Jorge. Porto: Fólio Edições, 2006.

– JACKSON, Phill.; DELEHANTY, H. Cestas sagradas: lições espirituais de um guerreiro das quadras. Tradução de Anna Maria Lobo. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.

– LOPES, Antonio; OSTROVSKY, Ingo. Timão campeão: como o Corinthians ganhou o Campeonato Brasileiro de 2005. São Paulo: Via Lettera, 2006.

– LUXEMBURGO, Vanderlei; OSTROVSKY, Ingo. É campeão! A montagem de um time vencedor. 2. ed. Rio de Janeiro: Gryphus, 2004.

– LUXEMBURGO, Vanderlei; OSTROVSKY, Ingo. Profissão campeão: como o Santos F. C. ganhou o Campeonato Brasileiro de 2004. Rio de Janeiro: Gryphus, 2005.

– OLIVEIRA, Bruno; AMIEIRO, Nuno; Resende, Nuno; Barreto, Ricardo. Mourinho: Porquê tantas vitórias? Lisboa: Gradiva, 2006.

– OSTROVSKY, Ingo; RAMALHO, Muricy. São Paulo campeão: como o São Paulo ganhou o Campeonato Brasileiro de 2006. São Paulo: Francisco Alves, 2007.

– PARREIRA, Carlos Alberto. Formando equipes vencedoras: lições de liderança e motivação: do esporte aos negócios. Rio de Janeiro: BestSeller, 2006.

– PAULO, Eduardo Andriatti. Futebol: treinamento global em forma de jogos reduzidos. Jundiaí: Fontoura, 2009.

– SARGENTIM, Sandro. Treinamento de força no futebol. Guarulhos: Phorte, 2010.

– WEINECK, Jürgen. Futebol Total: o treinamento físico no futebol. Guarulhos: Phorte, 2000.

5- Nos fale um pouco como o Sr vê a relação dirigente e treinador, sua visão sobre esta relação profissional.

O grande problema nessa relação é a falta de capacitação de muitos dirigentes.

Assim como os profissionais de comissão técnica (técnico, preparador físico, fisioterapeuta, fisiologista e outros), os dirigentes também deveriam ser profissionais no sentido mais amplo da palavra. Deveriam se qualificar, estudar, aprender, ou seja, se preparar adequadamente para exercer um cargo diretivo.

Quanto se encontra dirigentes amadores, que se dizem apaixonados pelo clube, mas que não entendem de gerenciamento esportivo, essa relação fica complicada, pois esse dirigente é o que vai dar palpite em escalação, em treinamento e com algumas derrotas já demite o técnico.

Acredito que todos que militam no futebol deveriam se qualificar para o cargo que exercem. Somente com estudo e aprendizado iremos mudar essa situação arcaica que se encontra o futebol brasileiro na maioria dos clubes e estados.

6- Para terminar, dê sua opinião sobre o Barcelona, o que eles tem de tão especial taticamente.

O Barcelona utiliza uma forma de jogar simples. É um futebol solidário, onde todos têm funções ofensivas e defensivas.

Com a bola nos pés o Barcelona troca passes sem pressa e sem afobação, até surgir um espaço para uma jogada. Os atletas se aproximam uns dos outros para criarem oportunidades para as tabelas.

A diferença para o futebol brasileiro é a falta de responsabilidade tática que temos. Muitos jogadores, sem a bola nos pés, ficam assistindo o jogo e não participam tanto para ocupar um espaço para dificultar a ação do adversário ou para criar espaço para uma jogada ofensiva.

Óbvio que o time catalão tem jogadores com grande qualidade técnica, mas acredito que a simplicidade das ações, a solidariedade e a dedicação coletiva são os segredos do Barcelona.

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Fonte:

Blog Estilo de Jogo – http://www.blogestilodejogo.blogspot.com