Escolha da CBF desagrada jovens técnicos brasileiros

Brasil copia modelo de seleções europeias e investe em técnico sem experiência na função

Wendel Caballero de Mello

O cargo de técnico da seleção brasileira sempre foi encarado pela opinião pública, críticos e pelos próprios treinadores como o ponto mais alto da carreira destes profissionais e era um justo reconhecimento a um currículo vitorioso e a toda experiência no cargo. Porém, com a escolha do ex-jogador Dunga, que não possui experiência na área, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), mais uma vez, quebrou esta tradição.

Mas a escolha da CBF não rompeu apenas com um modelo tradicional e também gerou descontentamento dos profissionais que iniciam a carreira como treinador de futebol e que investiram anos em sua formação acadêmica e profissional.

Para o técnico das categorias sub 15 e 17 do Clube Atlético Cantagalo, do Paraná, Lucas Góes, esta opção da CBF desvaloriza a classe. “Eu não gostei e a minha opinião deve ser a mesma de todos os que estão estudando, investindo e lutando para chegar ao topo, nesta árdua carreira. Dunga não tem experiência como treinador, portanto não merecia este cargo. É a desvalorização da profissão e, principalmente, dos profissionais da área”.

Góes é graduado em educação física e pós-graduado em futebol científico pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, no Paraná.

O técnico Fabio Cunha, que está na iminência de fechar o seu primeiro contrato para iniciar a carreira como treinador de uma equipe sub 20 de um tradicional clube do futebol brasileiro, expressa a mesma opinião do companheiro de profissão. “Fiquei muito triste com a escolha do Dunga, mas o nosso futebol é assim. Ao menos, deveria existir, como ocorre na Europa, com a UEFA, a obrigatoriedade de se fazer um curso profissional para se dirigir às equipes no Brasil”, diz Cunha.

Cunha é pós-graduado em treinamento de futebol e fisiologia do exercício pela Universidade de São Paulo.

Já o técnico do Paulista de Jundiaí, Vágner Mancini, maior revelação do futebol brasileiro na atualidade, o sentimento é o mesmo. “Como técnico eu encaro o cargo de treinador da seleção brasileira como o maior posto do futebol nacional, o grande objetivo de qualquer profissional da área e neste sentindo me sinto decepcionado por o novo comandante não possuir qualquer experiência na atividade”, confessa.

Opção comum na Europa

Em algumas das principais forças do futebol europeu, como Alemanha, Itália e Holanda a opção de entregar o comando de suas seleções nacionais a um jovem técnico sem experiência na função, mas que tenha sido ex-jogador e símbolo do time nacional, não é novidade. A Alemanha já teve Beckenbauer, Voller e Klinsmann como treinadores, enquanto Itália, com Zoff e agora Donadoni, e Holanda, com Rijkaard e van Basten, também escolheram técnicos sem experiência na função.

Todavia, muitas vezes a escolha destas tradicionais seleções são influenciadas pela questão econômica, já que diferentemente do Brasil, nestes países os clubes são milionários e as suas federações vivem com orçamentos modestos e muitas vezes não conseguem bancar os principais treinadores do país.

Seleção testou Falcão 1990

O Brasil também experimentou este modelo depois da Copa do Mundo de 1990, quando Paulo Roberto Falcão assumiu o cargo. Porém, o treinador ficou pouco mais de um ano no comando da equipe e após o vice-campeonato da Copa da América de 1991, foi demitido.

Na opinião de Vágner Mancini, o grande problema desta opção é apostar em uma pessoa sem vivência como técnico. “Experiência eu sei que o Dunga tem, pois trabalhou em grandes clubes e aprendeu muito com diversos técnicos. Mas a grande questão é saber se ele conseguirá passá-la aos atletas. Outra coisa, motivação não é tudo, a parte tática e a confiança no trabalho também são importantes para o sucesso no cargo”, diz o treinador do Paulista.

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Fonte: www.univercidadedofutebol.com.br