CLUBE DOS 13 X G-14: Política X Cooperação

Por Fabio Aires da Cunha

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Os clubes por todo o mundo sempre tentaram se organizar para defender seus interesses. A formação de ligas e associações foi à forma encontrada para essa organização.

No Brasil a primeira tentativa foi o Clube dos 13. Criado em 11 de julho de 1987 pelos maiores clubes brasileiros, com o objetivo de representar esses clubes, frente à assinatura de contratos, principalmente com a televisão, além de propor uma modernização do futebol brasileiro, já em crise desde os anos de 1980.

Esse nome foi escolhido, pois eram em número de treze os clubes fundadores: Atlético Mineiro, Bahia, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco da Gama. Atualmente, a entidade congrega vinte equipes. Além dos treze clubes iniciais, fazem parte: Atlético Paranaense, Coritiba, Goiás, Guarani, Portuguesa, Sport e Vitória.

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Na Europa criou-se o G-14. O G-14 é uma associação criada por clubes europeus para liderar as forças dessas entidades. Considerado um Agrupamento Europeu de Interesses Econômicos, procura que os clubes sejam ouvidos, pois historicamente isso nunca ocorreu.

Criado oficialmente em novembro de 2000 por quatorze clubes (Real Madrid, Milan, Ajax, Liverpool, Juventus, Bayern Munique, Internazionale, Barcelona, Manchester United, Borussia Dortmund, PSV, Porto, Olympique de Marseille e Paris Saint-Germain), hoje conta com 18 (inclui-se Arsenal, Bayer Leverkusen, Olympique Lyonnais e Valencia). Novos membros serão acrescidos apenas por convite do grupo.

O G-14 tem como palavra chave de sua estrutura – COLABORAÇÃO. Tendo como objetivos:

  • Cooperação entre os membros;
  • Promover cooperação com a FIFA, UEFA e, outras organizações e clubes;
  • Contribuir para decisões de formato e organização de campeonatos;
  • Fornecer o suporte econômico para o desenvolvimento dos membros, procurando assim equilibrar suas finanças;
  • Participar das negociações comerciais (patrocínio e direitos de televisionamento);
  • Partilhar suas experiências;
  • Coordenar suas políticas.

A força dessa entidade é muito grande, pode ser observada por meio das conquistas de seus membros. Por exemplo, dos 48 títulos na Liga dos Campeões da UEFA disputados até 2003, os membros, conjuntamente, venceram 38.

O peso dos votos dos integrantes é determinado estatutariamente pelo número e importância das conquistas nos campeonatos europeus.

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Enquanto observamos uma definição de objetivos bem claros no G-14, o mesmo não acontece no Clube dos 13. O objetivo da entidade brasileira é pouco claro, pois prega a elevação do nível do futebol nacional por meio do fortalecimento dos clubes. O que essa afirmação exatamente quer dizer? Como esse fortalecimento irá acontecer no Brasil, sem organização e seriedade? A criação dessa entidade parece muito mais um ato político do que organizacional e estrutural.

Não se pode negar que a entidade européia também tem muitos interesses políticos, mas a estrutura financeira, econômica e de organização estão presentes a todo o momento. O futebol na Europa é tratado como espetáculo e como tal, deve dar lucro. Os clubes são gerenciados profissionalmente e o torcedor é respeitado. Os estádios apresentam lugares numerados e segurança, os horários e cronogramas são cumpridos.

As medidas práticas e benéficas ao futebol brasileiro não foram vistas ao longo dos últimos 16-17 anos, a tal organização nunca chegou ao nosso futebol, temos visto fórmulas diferentes e mirabolantes a cada ano; clubes que são rebaixados e não caem; cronogramas que não são cumpridos; falta de segurança e comodidade nos estádios e o pior, um total desrespeito com o torcedor. Os interesses econômicos dos grandes clubes brasileiros em detrimento dos pequenos são práticas comuns no Brasil. A negociação com as redes de televisão, por exemplo, não é repassada de forma igualitária ou no mínimo justa. Alguns clubes chegam a ganhar três ou quatro vezes mais que outros, isso somente beneficia as mesmas equipes. Alega-se que alguns clubes dão mais audiência e tem mais torcida, por isso ganham mais, mas como os pequenos poderão dar mais audiência se não tem o mesmo espaço na mídia e não tem oportunidade de competir em igualdade de condições. Com isso, a diferença entre grandes e pequenos é cada vez maior e a tendência é aumentar sempre.

Portanto, devemos repensar toda a estrutura do nosso futebol. A começar por dirigentes capacitados, profissionais e que não utilizem os clubes para interesses particulares. Campeonatos bem organizados, com fórmulas simples que não se alterem no decorrer dos anos e sem favorecimento de alguns clubes poderá ser o início da moralização e organização de nosso futebol. O modelo europeu que dá certo poderá ser copiado e principalmente, adaptado para a realidade brasileira, não simplesmente copiarmos o que se faz na Europa por vaidade ou incompetência em se organizar alguma coisa decente e honesta.

Os clubes e o futebol são patrimônios do nosso país, não se pode deixar meia-dúzia de incompetentes arruinar o que conquistamos nos últimos 100 anos.

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Referência:

CLUBE DOS 13. <http://clubedostreze.globo.com>. Acesso em: 2003.

G-14. <http://www.g14.com>. Acesso em: 2003.

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