O técnico da seleção brasileira Carlos Alberto Parreira declarou que o Mundial da Alemanha será a “Copa da saúde”, após ver a intensidade de dois dos primeiros jogos da competição. A preparação física de atletas de elite do futebol é, há muito tempo, assunto sério que envolve um time de especialistas. Mas quem não faz parte do seleto grupo de convocados de 2006 pode tirar vantagem de informações para evitar lesões na “pelada” de domingo.
A preparação física dos jogadores profissionais é baseada no desenvolvimento das capacidades motoras que incluem resistência, força, velocidade e agilidade. Uma verdadeira equipe multidisciplinar apóia o craque: um técnico, auxiliar técnico, preparador físico, auxiliar de preparação física, fisiologista, fisioterapeuta, médico, nutricionista, psicólogo, assistente social, enfermeiro, roupeiro, entre outros. Quem joga por lazer necessita de uma preparação completamente diferente de um atleta profissional.
“O atleta de fim de semana não precisa treinar potência e velocidade, ele necessita de resistência e um reforço muscular. O grande problema é justamente esse: praticantes do futebol de lazer quererem copiar os atletas profissionais”, diz o professor Fabio Cunha, técnico de futebol e mestre em Ciências do Movimento pela Universidade de Guarulhos. Um “não-atleta” deve conhecer suas limitações e, principalmente, ter consciência que as práticas são totalmente distintas.
Cunha alerta para o grave perigo para a saúde de quem pratica atividade física apenas uma vez por semana. “O ganho de saúde e condicionamento é quase nenhum se compararmos aos riscos. O ideal é se exercitar no mínimo três vezes por semana. Muitas pessoas ao fazerem uma única atividade semanal acabam compensando toda a semana de inatividade, passando assim do seu limite”.
É o caso do comerciante carioca Roger Pereima, 38 anos, que sempre gostou de esportes. Praticou corrida, natação e futevôlei, mas com a vida profissional agitada, apenas o futebol às terças-feiras era sagrado. “Não fazia alongamento, nem antes nem depois do jogo. Não havia nenhuma preparação. Nunca me cuidei”, admite o “peladeiro” que está um pouco acima do peso. Depois de anos concentrando o esforço físico em um dia da semana, a coluna reclamou. Duas hérnias de disco mandaram Pereima para o banco e, provavelmente, o próximo lance será na mesa de cirurgia. “Não disputo uma partida há um ano e sete meses, não posso nem mais praticar dança de salão. Para aliviar um pouco a dor já tentei RPG, acupuntura, pilates, mas acho difícil escapar de uma operação”, lamenta.
O professor livre docente e chefe do Centro de Traumatologia do Esporte da Unifesp, Dr. Moisés Cohen, conhece muito bem os problemas ocasionados por esforços físicos sem preparo. Os mais freqüentes são as lesões musculares e os ligamentos, contraturas, rupturas de tendão e fraturas por estresse. Entorses leves e graves, principalmente do tornozelo e do joelho, também são comuns naquele futebol antes do churrasco no clube. Como os atletas não se condicionam, a musculatura não está preparada para suportar a alta exigência de carga em cima do aparelho locomotor. Segundo o Dr. Cohen, eles conjugam o verbo no presente, acreditando que ainda estão no passado. “Esses jogadores muitas vezes não são mais garotos e insistem em correr muito, dividir todas as bolas. A cabeça quer comandar os movimentos, mas o corpo não acompanha mais”, diz.
Lesões musculares incomodam muito e até podem jogar para escanteio esportistas amadores e encurtar carreiras profissionais promissoras, mas quando o órgão ameaçado é o coração, as complicações são mais graves e podem levar à morte. O Dr. Marcos Brazão, cardiologista especializado em medicina esportiva e secretário geral da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, também desaconselha a prática ocasional de exercícios. “Os principais complicadores são arritmia cardíaca e infarto agudo do miocárdio”, explica, ”muitos jogadores de domingo estão acima do peso, não controlam a pressão e nem o colesterol. Resolvem fazer uma atividade vigorosa no fim de semana e correm sério perigo. Quem fuma tem os riscos triplicados”, adverte.
Quem faz a opção saudável de começar um programa regular de exercícios físicos, independentemente da idade, não pode abrir mão de uma avaliação médica prévia e orientação profissional. “A partir dos 35 anos um exame clínico com eletrocardiograma é o suficiente”, diz o Dr. Brazão, “já a partir dos 40 anos, é imprescindível incluir também um exame ergométrico, o chamado teste de esforço na esteira”.
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Fonte:
Brasilsaúde (Banco do Brasil)
http://www.bb.com.br/appbb/portal/bb/brs/rpt/Detalhe.jsp?Reportagem.codigo=3155